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Liberdade * Geopolítica * Socialismo
Para assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, nada melhor que o clássico mais censurado de John Lennon: "Woman is the Nigger of the World" de 1972. Retrocedento no tempo até 1964: Lesley Gore, com meros 17 anos, via o single "You Don't Own Me" tornar-se no segundo disco mais vendido dos EUA durante três semanas consecutivas, vendendo milhões e ficando com a fama de ter espoletado a segunda vaga do movimento feminista. E para finalizar, regressando muito no tempo até à primeira vaga feminista surgida Reino Unido, temos "A Marcha das Mulheres" composta por Ethel Smyth em 1910, com letra de Cicely Hamilton, como hino do Sindicato Social e Político das Mulheres, movimento feminista que empregou a acção directa para que as mulheres tivessem direito a votar, foto posto, vandalismo, confrontos com a polícia marcaram esta primeira vaga feminista que exigia coisas tão simples como o direito ao voto, coisa infelizmente pouco valorizada hoje em dia.
Tem sido comum estar de acordo com Basílio Horta, principalmente em como a democracia-cristã e o socialismo democrático foram essenciais para consolidar a justiça social no pós-guerra, e noutras acções autarcas mais directas (na questão das polícias, por exemplo Sintra ofereceu 8 viaturas à PSP e 4 à GNR e a câmara está a pagar obras de recuperação em algumas esquadras, na Amadora temos optado por também o tentar fazer, a uma escala menor a junta a cujo executivo pertenço ofereceu também uma viatura à PSP local). Dito isto:
Basílio Horta na entrevista que deu ao Diário de Notícias erra em dois pontos chave. Primeiro, ao achar que Mário Soares daria voltas na tumba por o Partido Socialista fazer acordos com o BE e forças ditas de "extrema-esquerda" é estar desatento ao percurso político de Soares nas últimas décadas da sua vida, ainda mais desde 2012 após o Congresso das Alternativas!!! É ignorar claramente os factos, espero que por lapso. Segundo, Defender uma política centrista de proximidade para com o PSD, é não estar também atento aos ventos que nos chegam de todo o mundo! O nosso sistema tarda em levar a cabo mudanças cruciais, e só o socialismo democrático as conseguirá implantar governando com asrestantes esquerdas!
O próprio Basílio Horta recorda na entrevista que no anterior mandato governou em coligação com o PCP, só lhe ficou bem convidar o mesmo PCP para integrar o seu executivo em Sintra quando obteve maioria absoluta (exemplo, digo eu, que este governo devia ter seguido em vez de na prática ter acabado com a Geringonça, por muito que finja que não o fez). Se nem a nível local um bloco central é viável, porque raio iriamos querer algo semelhante no governo central? Mário Soares daria voltas na tumba, isso sim, se numa altura tão crucial da História da humanidade onde além do regresso dos "fascismos" estamos perante uma catástrofe ecológica o Partido Socialista virasse à direita!!!
* Mário Machado alegava ter 600 seguidores, na última manifestação que convocou apareceram só 4 ou 5 e decidiu retirar-se da política activa. Afinal esses 600 são polícias segundo parece. [não sei se notaram que coloquei o * liberal que significa ironia antes da frase anterior].
Milhares de polícias saíram à rua, as fotografias que o Público captou da manifestação são avassaladoras. Será um erro crasso se à esquerda acharmos que é "coisa da extrema-direita" só porque um político oportunista lá decidiu aparecer. A dignificação daqueles a quem o Estado atribuiu a tarefa de nos proteger a todos não é "coisa da extrema-direita", assim só os empurramos para lá. São os protestos injustos? Não, não são. Esse é o cerne da questão.
O populismo não se combate, é impossível, o que se combatem são as causas do populismo (ordenados baixos, injustiças flagrantes, leis absurdas e que não fazem sentido, julgamentos na praça pública, sentimento de insegurança e abandono por parte da esmagadora maioria do eleitorado, sensação de caos nos serviços públicos, etc.).
O que há a explicar aos sindicatos de polícia no que toca ao Chega, é simples: vão ler o programa de Ventura. Quer proibir o tempo de dedicação dos dirigentes sindicais, proibindo na prática o cargo de delegado sindical, e liberalizar o despedimento sem justa causa. A proibição prática do sindicalismo, como alerta Raquel Varela, e a privatização da Saúde e da Educação são as partes mais nefastas do programa que a extrema-direita em redor de André Ventura encobre com o seu populismo, desviando a atenção da esquerda com as suas provocações racistas (Trump e Bolsonaro utilizam esta receita com sucesso, tal como o Vox).
O problema é que na era actual os jornais sabem que um título sobre um comentário racista, crimes étnicos ou ciganos atrai mais clics e partilhas, seja pelos que concordam quer seja pelos cidadãos e figuras mediáticas que se sentem indignados, do que o milionésimo texto sobre um liberal querer acabar com conquistas de Abril como a Saúde e a Educação.
Existem momentos em que alguém surge e retrata o mundo tal qual é e não como julgamos que é, creio estar a assistir a um momento desses na entrevista de Henning Meyer a Branko Milanovic no podcast da Social Europe. Resumindo: será que a uberização da economia nos tornou a todos em capitalistas, cada um à sua escala, na medida em que agora podemos rentabilizar o nosso tempo, a nossa casa e até os nossos automóveis, motos e bicicletas? Para mim não está a ser nada fácil digerir a realidade retratada na obra mais recente de Branko Milanovic, que em Portugal tem já editado "A Desigualdade no Mundo" (Actual Editora, 2017). Pessoalmente, a minha relação com o capitalismo encontra-se melhor retratada na "Everyday I Love You Less and Less" dos Kaiser Chiefs, vir agora descobrir que por poder alugar um quarto na Airbnb, fazer entregas para a Uber Eats na minha bicicleta, editar um livro no Kindle ou adicionar o AdSense aos meus blogues ou portais internéticos me torna num "capitalista a título individual" não me convence plenamente, parece-me mais uma justificação ou um embelezamento da precariedade, mas vale o brainstorming.
Sei que se tornou vulgar apodar os inimigos do progresso e da civilização de "fascistas", mas não creio que Salazar ou Mussolini alguma vez abdicassem da escola pública nem da saúde pública como exclusivos do Estado, mais não fossem como ferramentas de controlo social... esta gente é pior!
Fiz um apanhado para a edição portuguesa do infame Pravda.ru com as várias reacções da extrema-direita europeia com o sucesso alcançado pelo Vox nas eleições mais recentes em Espanha. É curioso, uma vez que de André Ventura até Marine Le Pen, passando por Geert Wilders e Matteo Salvini, pouco há em comum além de serem todos apodados do mesmo pela comunicação social e serem todos hostis à imigração, fora isso os programas sociais e económicos chegam mesmo a ser antagónicos com Le Pen a captar o eleitorado socialista e comunista francês e Salvini, sendo ele próprio um ex-marxista, tendo vários preocupações sociais enquanto que Ventura defende os disparates habituais dos liberais (acabar com o SNS e com a escola pública, quem não tenha dinheiro que seja analfabeto e morra à porta do hospital suponho, discurso semelhante ao dos Aliança, Iniciativa Liberal e boa parte do PSD actual). Tudo isto só faz mesmo sentido se, como Raquel Varela, constatarmos que "a extrema-direita não é uma ideologia". Todos estes líderes partilham, isso sim, preconceitos. Estão longe de partilhar uma ideologia comum, razão pela qual estão espalhados por dois ou três grupos parlamentares no Parlamento Europeu, felizmente para todos nós.
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