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Liberdade * Geopolítica * Socialismo
Há uma vida ou duas atrás fui durante um dia comentador na RTP Açores, na condição de correspondente internacional da extinta Mathaba News Agency, agência noticiosa africanista inicialmente ligada ao regime líbio mas já independente quando lá colaborei. A Líbia foi a mais hedionda e vergonhosa aventura bélica europeia, o seu maior erro geopolítico, onde para eliminar um "ditador" se destruiu "a Suíça de África", uma nação onde a qualidade de vida rivalizava até com a portuguesa e que hoje em dia, após ter sido "liberta" pela dita democracia ocidental é um país do Terceiro Mundo, dividido por uma eterna guerra civil onde a população foi subjugada por terroristas islâmicos, mercenários oportunistas e onde existem actualmente mercados de escravos, onde seres humanos são vendidos em hasta pública como bestas de carga e objectos sexuais. É este o Ocidente que me magoa e envergonha... mas o Khadafi era muito mau dizem, muito melhor do que lá existe agora é verdade, mas mau à mesma...
A banda sonora da última noite de estudo para as Provas Nacionais em 2003 foi o split "Lisbonne Vs Paris" dos Mata-Ratos e Urban Crew. Creio que a noite terá começado no Jürgen's Bar (quando era um sítio decentemente mal frequentado onde paravam punks, motards e metaleiros, não a actual versão com empregados de camisinha branca e lacinho), passado pelos BOCA DO INFERNO BAR "BAIRRO ALTO" e Meia Nota, chegando a casa estudei ao som do split noite fora, dormi uma duas horas, chamei um táxi e rumei àquela escola secundária em frente à antiga Praça de Touros de Cascais (actualmente um condomínio de luxo ainda em construção com duplexes e piscinas) e lá entrei em História na FLUL, primeira escolha, com a sofrível média de 14 valores (sem Contingente Açores).
Curiosamente quando era jovem e fresco tinha este senão que irritava colegas e amigos: era boémio e conseguia ter positivas sem estudar. Não muito altas é certo, mas ainda hoje irrito muito marrão quando digo que quando se matam a estudar com noites em branco de desesperado decoranço: se é preciso tanto esforço, é porque não aprendeste ou estás na área errada a estudar algo que não gostas. O mais curioso é que agora à distância creio que entrei no ensino superior (em duas universidades até, em anos diferentes) só para provar que o conseguia fazer... nunca tive a disciplina nem a liberdade financeira para completar nenhuma das licenciaturas, acabando por cancelar ambas as matrículas. Provavelmente culpa da minha aversão ideológica à Academia e ao seu sistema de validação via academismo de papagaio.
Já podemos dar os parabéns a Boris Johnson pela sua reeleição em 2024, mas pelo menos com a eleição do liberal centrista Keir Starmer para a presidência do Partido Trabalhista a esquerda identitária deve ficar em segundo plano. Permitir que esta se tornasse tão vistosa no Labour foi o segundo erro fatal de Jeremy Cornbyn, o primeiro sendo a não aceitação do Brexit e o disparate do segundo referendo.
E daí é possível que o Kei Starmer adopte muita da agenda da esquerda identitária, afinal é a melhor maneira de fingirmos ser muito progressistas e revolucionários sem alterar nem melhorar porra nenhuma na vida da classe trabalhadora e na criação de uma sociedade socialista.
Como crítico e difusor literário, editor independente e tradutor freelancer tenho que me deslocar frequentemente aos correios para levantar ou remeter encomendas. Com o intuito de reduzir essas idas e voltas, ainda antes do Apocalipse Gripal do COVID-19, aluguei um apartado na estação de correios que me ficava mais a caminho, eis o meu relato quanto às últimas semanas.
Desde Janeiro que todo o meu correio editorial (livros, manuscritos, revistas) e desde o começo da pandemia algum do meu correio pessoal (como encomendas de farmácias online, lojas de suplementos, a recepção de câmeras e tripés para o eternamente adiado podcast do “Livros à Mesa”, artigos para o estúdio do mesmo, etc) são direccionados para o apartado que abri, pensando que assim salvaguardava pelo menos o simpático carteiro aqui da zona.
Os primeiros meses decorreram de modo magnífico, mesmo após a aplicação de algumas medidas de contingência por parte dos CTT a estação de correios funcionava no seu horário normal, as pessoas entravam a conta gotas como está estipulado para todos os estabelecimentos desde a declaração do Estado de Emergência, a porta estava aberta e o espaço arejado. Não demorava mais que uns minutos a receber e a remeter correio, há meras duas semanas.
Entretanto, não sei se por imposição sindical ou dos seus funcionários, se por alguma decisão da hierarquia da própria empresa, tal já não sucede. Os CTT reduziam o seu horário, estão abertos meras quatro horas e meia do dia e a minha ida semanal tornou-se hoje um pesadelo, tanto que em vez de meros minutos a recolher e a remeter encomendas, estive duas horas (das 09:30 às 11:30) numa herculeana fila à porta da minha estação dos CTT e acabei por desistir e ir embora, uma vez que a justificada revolta dos presentes e a falta de cuidado de alguns deles estava a abandonar de todo a distância de segurança.
A redução de horário de um serviço essencial como os CTT é um erro crasso, é aqui que têm de se dirigir imensas pessoas para receber apoios da Segurança Social e reformas, e pagar as suas contas (e aqui não me refiro só idosos, sei que a pobreza envergonhada é uma tradição em Portugal, mas acreditem quando vos digo que em Abril de 2020 ainda existem um vasto número de pessoas que não tem rendimentos suficientes para sequer abrir uma conta bancária e pagam todas as suas contas nos balcões dos CTT.
Ao condensar o horário de atendimento, condensaram também a presença dos seus clientes, há meras duas semanas com horário normal a afluência estava espalhada pelas oito horas de atendimento e lá era uma questão de minutos ou meio hora. A redução do tempo de abertura não reduziu o risco de contágio, ao passar a aglomerar à sua porta dezenas de clientes durante horas seguidas, e estando actualmente as portas encerradas, os CTT não reduziam o risco de contágio dos seus funcionários nem dos seus clientes, pelo contrário: aumentaram-no e em muito!!!
Serviços essenciais como são os correios não deviam reduzir os seus serviços em Estado de Emergência, talvez até os devessem alargar para reduzir o número de pessoas presentes, e estou em crer que tal não ocorreria caso ainda fossem uma empresa pública – razão pela qual defendo a sua plena renacionalização, custe o que custar – são tão essenciais aos serviços mínimos do Estado como o SNS e os agentes da PSP. Repito: esta medida de “contenção” aumenta em vez de reduzir o risco, que alguém com poder decisor a reverta!
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