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Faleceu Giampaolo Pansa

por Flávio Gonçalves, em 15.01.20

Faleceu há 3 dias Giampaolo Pansa, autor tanto quanto sei inédito em língua portuguesa e que ficou conhecido no final da vida por cometer a grave imprudência de desde 2002 denunciar crimes de guerra e actos de violência "anti-fascista" no pós-guerra. Passou de presença habitual na imprensa italiana como intelectual de esquerda a ser apodado de "historiador dos fascistas" ao ponto de em Outubro de 2006 na sessão de lançamento de "La Grande Bugia" ter irrompido um confronto violento entre skinheads antifas e neofascistas. Hoje em dia acusam-no de ter "branqueado" o fascismo no pós-guerra por ter tido a ousadia de afirmar que perseguição, violência política e crimes de guerra valem por si só e são universalmente maus, mesmo quando são praticados "pelos nossos". Não sei como se assumia politicamente hoje em dia Giampaolo Pansa , mas se tal fosse possível deviam atribuir-lhe o título de "libertário honorário".

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"Libertária" 002 a caminho

por Flávio Gonçalves, em 19.10.19

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Quase me esquecia de fazer um aviso à navegação: já se encontra na gráfica o segundo número da revista Libertária, caso estejam completamente à nora quanto ao que é podem espreitar o primeiro número gratuitamente aqui e dar uma vista de olhos à página oficial, mas resumo já de modo extremamente simples: é uma revista cujo público alvo são os militantes, simpatizantes e eleitores do Partido Socialista. O projecto foi inicialmente registado em 2015, contudo o primeiro número só viu a luz do dia em 2018 e por muito pouco quase chegava só em 2019, uma vez que as permissões para publicar alguns dos textos oriundos do estrangeiro já tinham caducado, o preço a pagar por uma publicação que surge única e exclusivamente graças a trabalho voluntário da paginação até à revisão final, passando pela tradução e colaboração escrita.

Para o terceiro número iremos rever o Estatuto Editorial no que toca à referência ao libertarianismo e ao liberalismo clássico, mais não seja porque não queremos de todo que a nossa humilde publicação de esquerda socialista democrática seja confundida com a loucura desumana e reaccionária dos liberais da direita libertariana cá surgida que já usurpou o termo libertário nos EUA e Brasil, nem com a revista de "esquerda liberal e democrática, com abertura à direita mais liberal e democrática" que o ex-eurodeputado Francisco Assis se prepara para lançar em 2020 e que certamente fará as delícias da ala liberal e de direita do PS.

No terceiro número, algures em 2020, iremos encerrar o ciclo dedicado aos fundadores do SPD, centrando o foco na Sociedade Fabiana e nos pais fundadores do socialismo libertário. Algumas secções tanto do PS como da JS já nos fizeram chegar a sua abertura para que apresentemos a revista nas suas sedes, 2020 será um ano extremamente intenso para as bases socialistas que, depois de tantos anos sem nada doutrinário e ideológico que ler após a extinção da revista Ops! de Manuel Alegre, terão não só a Libertária como a revista ainda sem título de Francisco Assis à escolha, e muitas mais surjam, pois sem acordo firmado à esquerda e com uma direita aguerrida e rejuvenescida na Assembleia da República os próximos anos serão de intenso combate ideológico.

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Dois livros no centenário d"A Batalha"

por Flávio Gonçalves, em 14.10.19

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Desde dia 9 de Outubro que está patente uma exposição na Biblioteca Nacional até 31 de Dezembro dedicada ao jornal "A Batalha", que já foi diário, semanário, mensário e, se não estou em erro dado que a minha assinatura caducou faz anos desde que me trasladei de Benfica para a Amadora, é agora uma publicação bimestral com grafismo e redacção renovados. Mas como nem só de jornais e exposições vivem os libertários, na data foi também lançada a obra "Surgindo vem ao longe a Nova Aurora…" de Jacinto Baptista (Letra Livre, 2019) com apresentação de António Ventura.

No dia 12 de Novembro há novo lançamento no Auditório da Biblioteca Nacional, desta vez "Quatro Itinerários Anarquistas: Botelho, Quintal, Santana e Aquino" de João Freire, editado pelo próprio A Batalha, autor que ando para entrevistar desde o lançamento de "Um Projecto Libertário, Sereno e Racional" (Colibri, 2018).

No final da minha rebelde juventude ainda passei algumas tardes na redacção d'A Batalha, no Centro de Estudos Libertários nos Olivais, até à minha rendição e compreensão da inevitabilidade do sistema actual e filiação num dos partidos "grandes", sendo actualmente e com extremo orgulho autarca e dirigente local do mesmo (embora seja notório no título do blogue e também na revista que edito que algo ficou).

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Em 2010 ocorreram certamente muitas coisas dignas de nota, uma delas não foi obviamente a minha inclusão na redacção do semanário político O Diabo para revitalizar, entre outras coisas, a secção de cultura - algo normalmente descurado em publicações deste género e uma luta inglória que testemunhei em primeira mão no braço de ferro entre o director de então (a favor de aumentar a secção de cultura do jornal) e a administração (que considerava tal como desnecessário e irrelevante).

O jornal, do qual a política acabou por me distanciar, foi o primeiro local a acolher-me como "crítico" literário (nunca gostei muito do termo), mesmo após o meu afastamento mantive a confiança de várias editoras e acabei por continuar a escrever sobre livros e autores em vários blogues pessoais e colectivos, páginas de revistas de curta tiragem e jornais regionais diários, quinzenais ou mensários até integrar a redacção de língua portuguesa do lendário Pravda.ru (onde estimamos que 90% do público seja brasileiro e lusófono).

Sucede que ao colaborar com publicações mais politicamente vincadas e dispersando os textos que escrevo por várias plataformas ao gosto do suposto público alvo, achei necessário - mais não fosse por questões de organização mental e respeito pelos editores e autores que volvidos mais de 9 anos ainda insistem em enviar-me livros - criar um espaço onde me pudesse concentrar apenas nas obras que recebo (em número suficiente ao ponto do carteiro habitual ter combinado comigo um toque de campainha 'secreto' para saber quando há livros para recolher, evitando que carregue esse peso e eu não tenha que me deslocar à estação dos CTT da minha zona para os levantar), nos autores que me agradam e, como um prazer não vem só, porque não nos restaurantes por onde passo e os pratos que confecciono?

Da resenha ao mero tratamento jornalístico (vulgo, divulgação) creio ser mais útil aos autores, editores e à minha boa consciência concentrar-me num espaço onde posso publicar textos curtos, que não passariam no crivo editorial de uma publicação convencional, sugerir entrevistas, locais de boa mesa e livrarias por onde passo. Tendo já passado por meia dúzia de redacções e lido dezenas de blogues sobre livros em língua portuguesa, castelhana e inglesa, evitarei em absoluto fazer como alguns "colegas" que se limitam a divulgar os textos da contracapa e fingir que leram as obras. Como o nome Letras com Garfos já estava registado, creio que Livros à Mesa serve bem o meu propósito e é um título que me agrada. Sejam, pois, bem-vindos. Estamos abertos para férias.

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Os ISBN cinco anos depois

por Flávio Gonçalves, em 11.06.19

Esta era uma das medidas que sempre esperei ansiosamente que o Ministério da Cultura de um governo socialista revertesse, regressando os ISBN gratuitos como medida de apoio à cultura em vez de financiarmos directamente a APEL, tornando-nos sócios se aceites como tal, ou indirectamente, comprando os ISBN à APEL, pagando quantias a meu ver absurdas para pequenos editores. A APEL neste caso tem funcionado como uma agência nacional de ISBN, que noutros países avançados é - tal como o registo ISSN e o Depósito Legal - um serviço público garantido pelo Estado. Pode ser que na próxima legislatura os poucos editores independentes não sócios da APEL (se é que existe ainda algum) se organizem e alertem o governo para este pormenor.

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A 10 de Abril, Ricardo Araújo Pereira irá apresentar no El Corte Inglés, em Lisboa, uma selecção de crónicas da autoria de Mário de Carvalho sob o título O Que Eu Ouvi na Barrica das Maçãs. De acordo com o comunicado que recebemos por parte da Porto Editora, as crónicas serão “divididas em quatro partes – que separam o escritor, o cidadão, o comunicador e o memorialista”.

Trata-se da primeira vez que as crónicas de Mário de Carvalho são coligidas em livro, tratando-se de uma selecção de textos publicados originalmente nas páginas do Público e do Jornal de Letras, sendo algumas “reveladoras de como a História é cíclica e alguns autores proféticos”, garantindo a editora que “como acontece na sua ficção, também aqui reencontramos o observador atento e o incomparável contador de histórias.”

“Memórias políticas e familiares (como em «Uma bandeira na varanda»), preocupações de um cidadão inconformado («A ascensão da canalha»), um olhar crítico sobre o ofício da escrita («Espelho de escritores») e encontros («Um homem tranquilo», sobre Saramago) fazem parte do universo deste livro que será lançado a 10 de Abril às 18:30, no El Corte Inglés Lisboa, com apresentação a cargo de Ricardo Araújo Pereira.”

Mário de Carvalho foi activista pró-democracia e acérrimo defensor da liberdade de expressão, tendo sido detido e torturado durante o Estado Novo e exilado na Suécia, tendo actualmente editados 30 títulos, entre ensaios, contos, novelas e romances.

Sinopse

Reconhecido como um dos mais importantes escritores portugueses da actualidade, a sua faceta de cronista passou despercebida à maior parte dos leitores; daí esta selecção das suas melhores crónicas publicadas nas décadas de oitenta e noventa do século passado no Público e no Jornal de Letras. Delas emergem o ficcionista, o cidadão, o comunicador e o memorialista, em textos que alguns diriam proféticos e, nas palavras de Francisco Belard: «testemunhos de um largo campo de assuntos, abordagens, dimensões e estilos, através de eras e lugares, sinais de um escritor que declaradamente prefere viajar no discurso e decurso do tempo e do espaço doméstico a fazê-lo em itinerários geográficos, programados e turísticos. Por tudo isto […], os leitores dos romances o vão reencontrar em mudáveis cenários e perspectivas, de outros pontos de vista, na familiaridade e na estranheza diante do seu mundo, que faz nosso.»

Ficha

Título: O Que eu Ouvi na Barrica das Maçãs
Autor: Mário de Carvalho
Edição: Porto Editora
Páginas: 256
Preço: 15,50€

Foto: Porto Editora

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O Autor


Colaborador da edição portuguesa do Pravda.ru, tradutor, editor da Libertaria.pt, autarca e político a tempo parcial, socialista a tempo inteiro, membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono, activista do Conselho Português para a Paz e Cooperação, açoriano e muitas outras coisas. Escrevo sobre comida, livros, música e outras irrelevâncias culturais no Livros à Mesa. Encontram-me em língua inglesa no Autarkies. Endereço para envios promocionais (livros, revistas, zines, etc.): Flávio Gonçalves, Apartado 6019, EC Bairro Novo, 2701-801 Amadora

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