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Liberdade * Geopolítica * Socialismo
A Juventude Socialista solidarizou-se no serão de 2 de Fevereiro com Alexei Navalny, o mais externamente eficaz e menos votado membro da oposição interna a Vladimir Putin, contudo trata-se apenas do equívoco mais recente da desastrosa normalidade geopolítica do Partido Socialista.
Admito que passados quatro meses desde a última vez que submeti uma crónica da minha autoria ao Pravda.ru, contava debruçar-me esta semana sobre temas mais profundos acerca da necessidade do Partido Socialista, do Partido Socialista Europeu e inclusivamente da actual encarnação da Internacional Socialista se renovarem à esquerda, regressando não a um passado mitológico revolucionário - realista apenas no caso dos partidos irmãos SPD e Labour - mas meramente ao seu reformismo de outrora, evitando a deriva às mãos de uma ala direita e um aparelho cada vez mais reaccionários.
Admito que as acusações de estalinismo que Sérgio Sousa Pinto dirigiu a Miguel Costa Matos, o novo líder da Juventude Socialista, me encheram de esperança, afinal é sempre bom sinal quando a ala mais à direita do PS acusa qualquer desvio moderadamente esquerdista de "estalinismo" ou "radicalismo", mas quaisquer ilusões que pudesse ter quanto a tal poder afectar o atlantismo militante pró-americano dos PS e JS que é, esse sim, radical, cego e ousaria até afirmar fanático, desvaneceram-se ontem ao ler o seguinte comunicado da Juventude Socialista:
"Saudamos a coragem do ativista anti-corrupção Alexei Navalny, que depois de envenenado, foi detido e agora condenado a mais de dois anos de prisão, após procedimentos judiciais considerados arbitrários pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Aplaudimos, ainda, a bravura dos milhares de ativistas que, inspirados pelos valores democráticos, foram encarcerados por por protestarem nas ruas de cidades por toda a Rússia contra a exclusão arbitrária de candidatos independentes do regime.
Condenamos as violações sistemáticas dos princípios e práticas democráticas por parte do governo russo, apelando mais uma vez à ação diplomática conjunta e coordenada da comunidade internacional no sentido da libertação imediata destes presos e de pressionar Moscovo a tomar reformas para instituir o Estado de Direito democrático."
Tudo leva a crer que a Juventude Socialista, na sua sede de agradar ao amigo americano, em ir ao encontro do sentimento anti-russo da maior parte dos líderes europeus e da geopolítica atlantista pela qual se norteia o Partido Socialista e o respectivo governo, não recorreu a ferramentas tão simples como o Google ou veria que estava a apodar "a coragem" de um activista cujas façanhas mais conhecidas remetem à sua pertença à extrema-direita onde comparava muçulmanos e imigrantes a insectos e apelava ao corte dos apoios sociais às minorias étnicas (soa familiar?), o racismo e a xenofobia de Navalny desde 2012 que têm sido notícia em revistas do 'mainstream' como "Salon", "The Atlantic" e "The Spectator" ou jornais como "The Australian" e até o "The Guardian" (de 2012 até 2017, antes de o começar a apodar de herói) e aparecem logo nos primeiros resultados de qualquer pesquisa atenta.
Por mais que me agradem as políticas do PS a nível interno, não posso deixar de reconhecer que somos um desastre ao nível das relações internacionais e da geopolítica, vamos sempre de arrasto atrás dos americanos a defender o Juan Guaidó (cujo partido pese embora ser aceite na Internacional Socialista é de extrema-direita e com milícia própria que tem levado a cabo imensos atentados à mão armada), a defender o golpe de Estado na Ucrânia (catapultado por milícias neo-nazis treinadas por Israel, como o Batalhão Azov) e agora este amor da JS para com Navalny? O ridículo tem que ter limite!
É um erro extramente grosseiro e grave elogiar os venturismos como bons ou maus dependendo do país onde surgem (ou seja o nosso é mau, mas se for na Venezuela, na Ucrânia ou na Rússia aí os venturismos já são bons). Esperava mais da Juventude Socialista, menos cegueira, mais objectividade e, acima de tudo, mais ideologia e menos impulso emocional refém do que aparece nos cabeçalhos do péssimo trabalho e danos que os jornais e televisões portuguesas têm causado à democracia portuguesa: Navalny é a oposição de extrema-direita a Vladimir Putin, nem mais nem menos, o líder da oposição russa é Gennady Zyuganov, secretário-geral do Partido Comunista da Federação Russa, o segundo mais votado.
Recorde-se que também em Portugal quem mais berra contra a corrupção é André Ventura, e o que mais leio nos perfis pessoais de militantes da JS e até do PS é como este deve ser pesadamente multado pelas afirmações racistas e xenófobas que profere e como o Tribunal Constitucional devia ilegalizar o Chega, mas Alexei Navalny que defende exactamente o mesmo que André Ventura na Rússia já merece a simpatia da JS. Tenham juízo!
5 de Fevereiro de 2021, Pravda.ru
Foto: Michał Siergiejevicz, CC BY 2.0
Reconstruir as economias depois da pandemia de COVID-19 parece ser uma tarefa impossível dado ao contrário do que sucede numa guerra convencional não há infra-estruturas a reconstruir, o que criaria emprego e relançaria a economia. Ou será esta a oportunidade para um Novo Pacto Verde realista?
Não há danos na infra-estrutura
Tenho lido e ouvido compulsivamente todas as análises por parte das correntes de opinião dominantes na comunicação social tanto nacional como internacional sobre como poderíamos fazer ressuscitar a economia depois dos isolamentos causados pelo COVID-19 e todos parecem concordam num só ponto: estamos todos a comparar esta pandemia a uma guerra, mas não podemos aplicar medidas semelhantes ao Plano Marshall porque não se trata de uma guerra real, por isso não temos infra-estruturas que possamos reconstruir para criar emprego e relançar a economia.
Caso se tratasse de uma catástrofe mais terrena como um tsunami ou um terramoto, ameaças que historicamente têm afectado Portugal e as ilhas dos Açores, ainda podíamos aplicar a habitual fórmula que todos os Estados empregam para reduzir o desemprego e reforçar a economia: reconstruir as infra-estruturas danificadas, mas o COVID-19 sendo microscópico os danos que criou são muito menos palpáveis.
Há um par de dias tropecei num debate no Twitter com outras pessoas de esquerda e comecei a sugerir uma série de medidas que a meu ver podiam ser tomadas, o mês passado entrevistei a activista climática e autora Carmen Lima para a edição portuguesa do Pravda.ru e reparei que precisamos que sejam construídas muitas infra-estruturas caso alguma vez queiramos mesmo implementar mudanças de fundo que possam dar origem a uma economia e a um modo de vida que seja muito menos danoso para este planeta do que o actual modelo capitalista enlouquecido e quanto mais depressa se der essa mudança, melhor.
Concordamos que as guerras geopolíticas do futuro serão por recursos naturais como a água e o lítio, do mesmo modo que as guerras do século XX foram em grande parte pelo petróleo necessário para manter a economia dos Estados Unidos, tinha isso em mente quando entrei no debate, que sim, realmente não temos infra-estruturas para reconstruir, mas porque é que então não começamos a construir centrais de dessalinização, fábricas para produzir baterias de lítio, indústrias de plástico biodegradável, sistemas de redes fotovoltaicas, fábricas de hidrogénio, a velha fórmula “vamos fazer grandes obras públicas para criar emprego e restaurar a economia” só que numa vertente mais verde que criaria AGORA os novos empregos do futuro.
Um Novo Pacto Verde?
A reacção que recebi foi: portanto, um Novo Pacto Verde? Nunca foi propriamente grande entusiasta do Novo Pacto Verde se tornar em algo palpável no meu tempo de vida, achamos mesmo que as economias de orientação capitalista e os governos liberais vão adoptar tais medidas, reduzindo os lucros dos accionistas? Parecia-me tudo demasiado optimista, disparates da esquerda identitária, o tipo de Utopia vegan e ciclista que para mim não tinha qualquer apelo, quanto mais para a classe trabalhadora que está mais preocupada em chegar ao fim do mês com comida na mesa do que em ter de escolher produtos ecológicos caros e em pensar a longo prazo no futuro dos seus filhos.
Mas agora parece-me algo concretizável, precisamos de nos reindustrializar, os governos parecem estar finalmente dispostos a investir na criação de empregos em vez de se cingirem a resgatar os bancos e as grandes empresas multinacionais só para que estes nos mantenham vivos em empregos sem quaisquer perspectivas de futuro, com ordenados mínimos e uma dívida impagável crédito atrás de crédito, empréstimo atrás de empréstimo, então porque não aproveitar esta oportunidade para reindustrializar o país por via de um Novo Pacto Verde?
Podemos criar HOJE os empregos do futuro, não estaremos só a criar os habituais empregos na construção civil, teremos também que treinar equipas inteiras que possam operar todas estas fábricas novas tendo em vista uma economia com um Novo Pacto Verde, que limpe o ar, que extraia água potável do nosso oceano, que crie quintas biológicas, ferramentas solares, maquinaria eléctrica, transportes públicos ecológicos, iremos criar todo o tipo de empregos de produção e investigação país acima e abaixo, precisamos de mudanças e precisamos destas mais rapidamente do que a burocracia dos nossos governos as consegue concretizar, tudo isto me parecia impossível há um par de meses, com acordos climáticos que empurram as mais ínfimas mudanças como “objectivos” concretizar só daqui a décadas. Quando provavelmente já será demasiado tarde para terem qualquer efeito.
Esperança no pós-COVID-19
É que a maior parte dos activistas contra as alterações climáticas não conseguem fazer chegar à maior parte da classe trabalhadora que ao poluir estamos a criar as condições para a nossa própria extinção, o planeta consegue sobreviver a isto e restaurar a sua fauna e flora muito depois da humanidade se envenenar ou morrer de fome. E quando os guerreiros ecologistas conseguem fazer com que essa mensagem chegue a uns poucos membros da classe trabalhadora, a sua reacção é um mero: o ordenado só me dura uma semana depois de pagar as contas, a renda e a comida, a minha vida é horrível, sinto-me um miserável, que mal tem morrermos? Estou-me nas tintas…
As pessoas precisam mais de ordenados melhores do que de esperança, todos estes novos empregos industriais e técnicos verdes teriam que ser calculados de acordo com um Ordenado de Subsistência. Pela primeira vez desde sempre estou um tanto ou quanto optimista que os nossos governos podiam, caso tenham coragem para isso, construir um futuro melhor para todos nós por via de um Novo Pacto Verde que relançasse a economia e criasse empregos depois dos isolamentos do COVID-19.
Estou esperançoso, mas já sou demasiado velho para acreditar em utopias e em governos que se preocupem com o bem estar deste planeta e da população que nele vive, os milionários preferem investir em bunkers apocalípticos e em mansões fortaleza na Nova Zelândia para fugirem às massas famintas e depauperadas do mundo do que investirem para criar empregos verdes com ordenados altos, infelizmente só os governos poderão intervir e uma vez que não podem aplicar um novo Plano Marshall, o mínimo que podiam fazer era criar os empregos do futuro agora ao construir as infra-estruturas que um Novo Pacto Verde irá necessitar se alguma vez se concretizar.
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